24.1.07

A garota selvagem

Que história curiosa a dessa jovem cambojana, a tal da "mulher selvagem", que ganhou notoriedade em todo o mundo. Passou dezoito anos vivendo em uma selva do Camboja após ser dada como desaparecida ainda criança e foi encontrada em estado lastimável sequer andava em pé), sem se comunicar ou esboçar qualquer reação ou sentimento.

O mestre Truffaut trabalhou com essa temática em O Garoto Selvagem, sobre um menino de doze anos encontrado numa floresta por caçadores. Não falava, não sorria, andava de quatro. Nunca se descobriu, exatamente, quais as razões que levaram a criança a tal estado...certamente, o caso de Rochom Pngieng, a moça cambojana, também não será facilmente elucidado.

São exemplos perfeitos para se pensar a condição humana. O que, de fato, nos faz humanos? Qual o papel da cultura na nossa formação? Gigantesco, creio. Essas crianças não demonstram traços de 'humanidade', não reconhecem sentimentos, emoções, culpa...já que o 'viver em sociedade' é primordial para que se transmita, de geração em geração, o conjunto de referências, normas e símbolos próprios de qualquer agrupamento humano.

Outro caso, bem distinto dos garotos selvagens, no entanto: uma doença desconhecida acometeu Helen Keller aos dois anos de idade, no final do século XIX, no Alabama, deixando-a cega e surda. Ao longo de parte de sua infância, a menina não se comportava como as demais crianças, não reconhecia as regra da boa convivência, normas da educação. Sem possibilidade de se comunicar, tinha constantes acessos de fúria.



A família pensou seriamente em interná-la em um asilo...até aparecer Annie Sullivan, tutora que se dispôs a ensinar Helen a linguagem dos sinais. O simples fato e aprender uma língua capaz de fazê-la se comunicar com as pessoas e descobrir, através da palavra, um mundo de possibilidades tornou possível emergir em Helen aquilo que mais nos faz humanos...

Quando ouço as pessoas falando em certos sentimentos como se o bebê humano nascesse com eles, como se, de fato, constituíssem a condição humana sem a necessidade de apendizado, penso que é mais simples não pensar no papel da cultura nisso tudo.

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