17.2.08

Sopro

Quando eu abri as duas portinhas da estante segurando firme os puxadores, as pilhas e pilhas de cartões-postais permaneciam da forma como o seu dono as deixou. Quem é rato de sebo sabe que em algumas dessas livrarias vende-se cartões postais antigos...tinha uma no Catete na qual eu gostava de para para ver e ler os cartões. Eu gosto de ler velhas cartas, ainda que não sejam minhas. Aliás, se for de estranhos, ainda melhor.

Aquelas pilhas dentro da estante eram uma coleção de cartões muito bem organizada por tema e perfeitamente alinhada. Alguns estavam usados, mas grande parte intacta. Via-se que o colecionador adquirira em viagens pelo mundo...e os separou por tema...cada um contando a história do momento em que foi comprado, talvez muitos deles tivessem sido presenteados por amigos que quiseram contribuir para as torres de cartões...
Parece que não se vendem mais cartões como antigamente, essa é uma tradição de viagem que vai morrendo. Muito mais rápido é enviar um email de qualquer cyber café pelo mundo, mas menos encantador. Eu gosto de ter o que pegar, do cheiro, da caligrafia, da figura estampada. Eu gosto de cartas manuscritas, prefiro imaginar que tem muito do remetente no papel: sua impressão digital, o suor das suas mãos.
Eu sou mesmo esquisita. Quando encontro cartas, bilhetes, dedicatórias ou coisas do gênero dentro dos livros de sebos, é como um brinde extra. Pois ali estavam, quando abri a porta da estante, centenas de cartões que ninguém queria. O dono morreu há pouco. Um pedacinho minúsculo de sua vida deixado para trás. Aparentemente ninguém quis a coleção do homem morto. As lembranças daqueles momentos em que foram adquiridos morreram junto com ele.
Mas a coleção tem alma, tem suas impressões digitais gravadas em cada papel, tem história...só não tem quem lembre dela. Logo, a coleção se torna papel reciclado ou vai parar em meio à montanhas de lixo. Talvez caia nas mãos de algum livreiro que as venderá por R$ 1,00 cada, e quando o mesmo vir que ninguém quer as lembranças dos outros, porá no lixo ou então deixará num canto obscuro do sebo.
A vida é um sopro.



Um comentário:

Anônimo disse...

LEMBREI AGORA DOS CARTÕES ESCRITOS COM UMA LETRA APOIADA NA RÉGUA!

RSRS

BEIJOS

TATY