Decifra-me ou te devoro...

O que se esperar de um local, no meio do nada do deserto do Arizona, onde só existem um posto-motel e um café fuleiros? Poucos permanecem. As pessoas passam e somem pela poeira da estrada e a dona do estabelecimento vê aquelas figuras passarem diante de seus olhos com o mesmo parco entusiasmo com que encara a própria vida. Ela vive descabelada, irritada e desconfiada, até que (sempre tem um até que, senão não haveria filme)...como miragem, uma corpulenta turista alemã, depois de discussão com o marido e deixada na beira da estrada, chega àquela paragem e, pouco a pouco, transforma a vida dos locais e a sua própria.

BAGDAD CAFÉ
Produção alemã de 1987, dirigida por Percy Adlon. Com Marianne Sägebrecht, CCH Pounder e Jack Palance.

Algumas vezes, é necessário mesmo uma ajuda externa (não necessáriamente uma pessoa) a nos sacudir pelos ombros e nos ajudar a sair do marasmo. Se você não tomar conta da sua vida, ela vira um monstro de três cabeças e te engole e, de repente, do nada, você se dá conta de que não viveu, não segurou as rédeas, não criou o seu próprio destino. Frequentemente não nos permitimos um olhar mais apurado ao que não é rotina e acabamos por perder justamente o que há de mais belo e interessante nesse mundo. Se nos atermos ao essencial, o que será do riso frouxo, das incríveis criações humanas e entusiasmo? Isso me lembra o sussurro de Robin Williams nos ouvidos de seus alunos: carrrpeee dieeemmm.

Saber viver me parece ser justamente não se deixar apenas levar pelas ondas...corre-se o risco de morrer na praia.