Todo texto encomendado carrega certa responsabilidade subscrita, falar sobre um assunto específico prende a liberdade de criação e se estende num interminável questionamento sobre a satisfação do requisitante. Quando Helena me pediu para escrever sobre tal poema de Jorge Luís Borges, senti-me lisonjeado com tal convite e temeroso quanto à métrica. Decidi ir além. Deixei minha alma cantante falar mais alto e apelei pela memória infantil.
Busquei na coleção de compactos adormecidos uma música que me lembrasse o referido poema, e justifiquei minhas linhas na prosa da primeira Helena que conheci. A Dona Helena, matriarca da família materna. A mulher de olhos cinza que tanto acrescentou em minha personalidade e cujas frases de efeito até hoje assombram o inconsciente de tão libertino autor.
"- Mente vazia é oficina do diabo!" E não é que hoje, tudo isso começa a fazer sentido? Revendo fotos, músicas e agendas, percebo o quão atarefado levei a vida até hoje... O quão imbuído de atingir um objetivo - por mais que muitas vezes sequer soubesse qual era - levei meus dias. Não fosse assim, não teria sido um resultado tão perfeito do plano de criação traçado pela digna sinhá do tijuco das montanhas de além Rio.
O motivo: crianças hiper ativas. O diagnóstico do pediatra foi letal para a criação de dois meninos em um reduto afastado do Co2 da cidade. Matriculados em futebol de salão, natação, judô, tênis, inglês e frequentadores da catequese dominical os meninos não perturbariam os cavalos e as galinhas e não subiriam na goiabeira (mesmo o caçula odiando goiabas).
Acabariam com o ócio e enxotariam o demônio para o fogo da geena, de onde nunca deveria ter saído. Cresceriam fortes e felizes, tornando-se exemplo de comportamento social e donos de tantas histórias que sequer teriam tempo de se tornar dispensáveis em rodas de amigos.
Pena tudo passar tão rápido, e hoje descobrirem que a dispensa é inerente ao ser humano. Dispensamo-nos sem saber muito bem a razão, numa tentativa quase que inconsciente de não superlotar nosso coração e nossa agenda. O dia é corrido demais... E para alguém, (como o autor) que tem grande necessidade de sono, se torna ainda menor.
Aprendemos com o tempo que precisamos de mais momentos misantrópicos, onde deixamos todo o séquito neurótico de vozes da cabeça falarem o que jamais deixaríamos na presença dos demais. Abolimos o pudor frente ao outro e somos nós; sozinhos em meio a nossa mente vazia.
Talvez venha daí o vazio que sentimos na alma, e a vontade de correr para os braços de alguém que nos proteja do encontro do demônio que espreita nossa mente. Surge aquela dor da alma, inexplicável e uma tristeza que parece escondida desde que nascituro era. Surge a carência e os problemas imaginários. Tornamo-nos a espécie mais problemática de compania que podemos ser. E novamente nossa agenda torna a ser esquecida.
Aí então somos criança novamente, satisfeitos por segurar braço e adormecidos na memória orgulhosa de tudo ser tão perfeito para nós como deveria ser. A vida levar o rumo que levou - e levará. Para onde quiser, e ao lado de quem se mereça. Brindamos o magnifico ballet de girar mundo, e mais uma vez apontamos o lápis para escrever a própria história. Indo-se para onde se quiser ir.
A vida parece bem mais simples quando não se tem tempo de pensar nela. Porém muito mais emocionante quando nos libertamos das agendas, e mesmo sofrendo, ainda tentamos desfazer os nós de nossos problemas imaginários.
O melhor conselho é ainda tentar respirar.
[Dedicado às noites insones...]
Branco
A justificativa do texto:
Epitáfio (Titãs)
Sérgio Britto
Devia ter amado mais
Busquei na coleção de compactos adormecidos uma música que me lembrasse o referido poema, e justifiquei minhas linhas na prosa da primeira Helena que conheci. A Dona Helena, matriarca da família materna. A mulher de olhos cinza que tanto acrescentou em minha personalidade e cujas frases de efeito até hoje assombram o inconsciente de tão libertino autor.
"- Mente vazia é oficina do diabo!" E não é que hoje, tudo isso começa a fazer sentido? Revendo fotos, músicas e agendas, percebo o quão atarefado levei a vida até hoje... O quão imbuído de atingir um objetivo - por mais que muitas vezes sequer soubesse qual era - levei meus dias. Não fosse assim, não teria sido um resultado tão perfeito do plano de criação traçado pela digna sinhá do tijuco das montanhas de além Rio.
O motivo: crianças hiper ativas. O diagnóstico do pediatra foi letal para a criação de dois meninos em um reduto afastado do Co2 da cidade. Matriculados em futebol de salão, natação, judô, tênis, inglês e frequentadores da catequese dominical os meninos não perturbariam os cavalos e as galinhas e não subiriam na goiabeira (mesmo o caçula odiando goiabas).
Acabariam com o ócio e enxotariam o demônio para o fogo da geena, de onde nunca deveria ter saído. Cresceriam fortes e felizes, tornando-se exemplo de comportamento social e donos de tantas histórias que sequer teriam tempo de se tornar dispensáveis em rodas de amigos.
Pena tudo passar tão rápido, e hoje descobrirem que a dispensa é inerente ao ser humano. Dispensamo-nos sem saber muito bem a razão, numa tentativa quase que inconsciente de não superlotar nosso coração e nossa agenda. O dia é corrido demais... E para alguém, (como o autor) que tem grande necessidade de sono, se torna ainda menor.
Aprendemos com o tempo que precisamos de mais momentos misantrópicos, onde deixamos todo o séquito neurótico de vozes da cabeça falarem o que jamais deixaríamos na presença dos demais. Abolimos o pudor frente ao outro e somos nós; sozinhos em meio a nossa mente vazia.
Talvez venha daí o vazio que sentimos na alma, e a vontade de correr para os braços de alguém que nos proteja do encontro do demônio que espreita nossa mente. Surge aquela dor da alma, inexplicável e uma tristeza que parece escondida desde que nascituro era. Surge a carência e os problemas imaginários. Tornamo-nos a espécie mais problemática de compania que podemos ser. E novamente nossa agenda torna a ser esquecida.
Aí então somos criança novamente, satisfeitos por segurar braço e adormecidos na memória orgulhosa de tudo ser tão perfeito para nós como deveria ser. A vida levar o rumo que levou - e levará. Para onde quiser, e ao lado de quem se mereça. Brindamos o magnifico ballet de girar mundo, e mais uma vez apontamos o lápis para escrever a própria história. Indo-se para onde se quiser ir.
A vida parece bem mais simples quando não se tem tempo de pensar nela. Porém muito mais emocionante quando nos libertamos das agendas, e mesmo sofrendo, ainda tentamos desfazer os nós de nossos problemas imaginários.
O melhor conselho é ainda tentar respirar.
[Dedicado às noites insones...]
Branco
A justificativa do texto:
Epitáfio (Titãs)
Sérgio Britto
Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
Até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria ter aceitado as pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
e a dor que traz no coração
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor
Queria ter aceitado a vida como ela é
A cada um cabe alegrias e a tristeza que vier
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr.
Um comentário:
Emfim um texto de qualidade! rsrs
Gostei!
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