23.9.06

Verão da Liberdade

O verão de 1964 foi chamado de o verão da liberdade, quando inúmeros jovens americanos de todo o país partiram para o sul em prol de auxiliar os cidadãos negros a fazerem valer seu direito ao voto nas eleições daquele ano. E foi durante o verão da liberdade que três jovens ativistas dos direitos humanos - James Chaney, de 21 anos, Andrew Goodman, de 20, e Michael Schwerner, de 24 - estiveram em Mississipi para esse mesmo fim.




Em 21 de junho, os três jovens foram detidos pela polícia local, que alegando excesso de velocidade, enviou-os para a delegacia da região. Horas depois foram soltos. Entraram em seu carro e pegaram estrada, para então serem cercados por dois caminhões - com cerca de 19 membros da Ku Klux Kan - que os obrigaram a descer. Goodman e Schwerner foram assassinados a tiros. Chaney, o único negro entre os três, ainda foi brutalmente espancado antes de morrer. Os corpos foram enterrados sob toneladas de entulho e encontrados quarenta dias depois pelo FBI que empreendeu uma intensa busca pelos rapazes, em meio a apatia da polícia local.

Julgados 18 homens pelo crime, somente sete foram condenados a cumprir pena entre três a dez anos de prisão. Mas Edgar Ray Killen, pastor batista e membro atuante da KKK, foi absolvido pelo júri por onze votos contra um (a pessoa que o inocentou alegou que nunca poderia mandar um pastor para a prisão).

Em 1988, Alan Parker lançou a sua versão sobre o fato com o filme Mississipi em Chamas, que fez o assunto voltar novamente à baila. Com Gene Hackman, Willem Dafoe e Frances MacDormand, foi muito elogiado pela crítica e público, no entanto, criticado pelos historiadores por ter sido a história real livremente revista por Parker.



Em 1999, um jornal publicou o depoimento de um membro da KKK (cumprindo pena pelo assassinato de outro ativista) que se vangloriou pelo fato do mandante (Killen) do triplo assassinato de 1964 ainda estar solto. Cinco anos depois, Killen declarou que havia agido em legítima defesa. Em 2005, voltou a sentar no banco dos réus e foi novamente julgado pelos assassinatos, só que dessa vez não houve jeito: foi finalmente condenado pelo crime que cometeu quarenta e um anos antes. Aos oitenta anos e debilitado fisicamente, recebeu pena de vinte anos para cada assassinato.


Justiça foi feita? Jamais será suficiente para pagar a dor das famílias e o terror e sofrimento dos rapazes. Killen foi condenado a sessenta anos de prisão mas se viver mais cinco ou dez anos será muito. Viveu mais de quarenta anos de impunidade e gozou a vida, no entanto, aqueles rapazes sequer tiveram a chance de passar dos 25 anos...

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelo post, ouvi falar sobre o verão da liberdade num episódio do seriado Cold Case e vim saciar minha curiosidade sobre o assunto aqui...