2.3.07

A escola e eu

Não tive uma infância difícil, mas algumas de minhas memórias escolares são da pior categoria...uma série de pequenas humilhações que, por vezes, me faziam tremer dentro dos malditos uniformes, cada vez que cruzava o portão do colégio.
Eu já mijei em público, sentada numa carteira, a cara vermelha e quente de vergonha. A professora me fez secar. Aos seis anos. Com a camisa que vestia. As crianças sempre pediam para ir ao banheiro depois que acabava o recreio, a professora não permitia, ao invés, apontava para o armário estreito de duas portas, quem quisesse, que lá fizesse. Ela estava educando, pensava. E eu a odiei com toda a força de meu pequeno ser.
Na sala ao lado, minha prima levava beliscões e puxões de orelha. Essa tia também educava.
Não foi há tanto tempo atrás, minha gente...bom, talvez um pouquinho...vinte anos, exatamente.
Hoje em dia, essas ilustres senhoras provavelmente seriam processadas, mas à época a mentalidade geral não comportava a idéia de violência e abuso infantil em sala de aula. Cansava de ouvir mães dando carta branca às tias para que corrigissem seus filhos caso necessário.
Outras pequenas humilhações se seguiram, sempre camulfladas de "brincadeirinhas" ou "ensinamentos" por parte dos professores. Jamais poderiam supor a dor ou embaraço que causaram a muitos de seus alunos.
Hoje sou uma mulher de 27, cabeça feita e esperta (uia!), mas ainda assim, em sala de aula, vivencio um estranho temor de não ser aceita em minhas colocações. Tenho um certo pavor de parecer uma completa estúpida, gaguejar, esquecer palavras. Passei toda a graduação muda. Como mestranda, devo quebrar essa barreira que ajudei a construir, tenho que me posicionar, abrir a boca, expor meus pensamentos. Devemos nos desenvolver para o melhor, não é mesmo? A vida me deu porções de coisas boas, sou uma privilegiada em muitos aspectos. Assim como vivi uma série de dissabores. Nada mais natural. Genial é conseguir vivê-los sem morrer muito por dentro.

3 comentários:

Carlinha Salgueiro disse...

Olá Ly, adorei tudo o que vi.
Tinha vindo uma vez, mas estava com pressa, hoje, mesmo com trocentas mil coisas para fazer em casa, resolvi parar aqui.
Primeiro honrada em saber que alguém que escreve tão bem e sensatamente como eu gostaria de ser, ainda me lê...
Também tive uma infância medonha, era magrela, cabelo crespo e cdf, pouco talento nas aulas de educação física e a última a ser escolhida nas escalas de times das citadas aulas.
Terminei minha segunda graduação agora, tão sem saco de tentar estudar um mestrado, tão medrosa de não conseguir e tão preguiçosa a ponto de amar ficar em casa com todas as minhas forças.
Mas sinto que perco algo também, algo que gostaria de viver, uma vida mais agitada, viagens, amigos, bares...
Usando palavras tuas (fucei o blog sim) me saboto, trocando tudo isto por livros. Tentando assistir alguns dvds, mas a internet têm sido mais atrativa. Embora mesmo com quatro ou cinco filmes aqui, acabei me lembrando de comprar um que queria ver - já li o livro - Lolita, num post teu.
Enfim, escrevi mais eu acho que o maior de teus posts, e acho isto meio mal educado de minha parte, embora não consiga mudar muito isto.
Você deve saber um pouco de mim, gostei de saber de você, e pedir licença para voltar outras vezes.
Beijos!

Eddie disse...

Cara colega blogueira, por favor, sinta-se livre para comentar o que quiser, e quanto mais melhor! Obrigada pelo elogio e, creia, todos os blogs listados nessa página são os que eu realmente gosto. Visito toda semana mesmo. Adoro saber que tem pessoas tão parecidas comigo (a gente se sente como pertencendo ao mundo)...
Encarei o mestrado por alguns motivos e nem sei bem qual pesou mais, acho que preciso de uma constante injeção de ânimo. Quanto à preguiça, estou melhorando nesse aspecto, mas confesso que "adoro" fazer nada...é uma situação que precisamos vencer, porque, Carlinha, é preciso procurar o melhor, viver mais satisfatoriamente. Aproveitar os detalhes. Enfim...
Acho que sabemos exatamente o que nos falta, agora falta é objetividade para encarar mudanças.
Ah, quanto à seleção para o mestrado, desencana, basta estudar muito a bibliografia e ter uma boa redação...é menos difícil do que parece...bom, é isso...volte mais vezes...bjocas...Ly

A. F. disse...

Olha, não pude deixar de reconhecer uma semelhança grande com esse post. Sempre fui um fracasso com escola, colegas e professores. E ainda hoje tenho esse medo de falar na sala, esse medo de parecer boba, burra ou sei lá o quê.