Loucura

Isso tudo e um tanto mais. Desejo tudo muito, mas num certo desânimo para ousadas experiências grandiosas. A idade pesando, o cacete. Talvez os hormônios. Talvez um acostumar-se lento, aquele que sempre considerei degradante, fraqueza do espírito. Sei não, inda hei de acabar toda ao contrário (trabalho simples e rotineiro, marido simples e filhos, etcetera e tal) e, talvez, gostar.

Alguns ideais da juventude precisam ser abandonados, tais como a ilusão adolescente em achar que a vida é feita de grandes aventuras, quando o maior desafio é mesmo viver um dia de cada vez e perceber o encanto na rotina e na simplicidade, nos pequenos prazeres cotidianos. Não é preciso ir muito longe para isso. Basta começar. Agora.

Quero, sim, música, paixão, barulho e momentos estonteantes. Quero todos os prazeres que me cabem. Principalmente, me libertar desse monte de medos e "não me toques"...quero não perder coisa alguma mais e viver uma certa plenitude. Nem sei por onde começar. Desconheço o tamanho de minha audácia.

Loucura

O ímpeto de crescer e viver intensamente foi tão forte em mim
Que não consegui resistir a ele.
Enfrentei meus sentimentos.
A vida não é racional;
é louca e cheia de mágoa.
Mas não quero viver comigo mesma.
Quero paixão, prazer, barulho, bebedeira, e todo o mal.
Quero ouvir música rouca, ver rostos, roçar em corpos,
Beber um Benedictine ardente.
Quero conhecer pessoas perversas, ser íntimas delas.
Quero morder a vida, e ser despedaçada por ela.
Eu estava esperando.
Esta é a hora da expansão, do viver verdadeiro.
Todo o resto foi uma preparação.
A verdade é que sou inconstante,
Com estímulos sensuais em muitas direcções.
Fiquei docemente adormecida por alguns séculos,
E entrei em erupção sem avisar.

Anais Nin


Emprestado daqui...