Jogo para dois

Metade da mudança feita, inda restam sacolas e mais sacolas de livros e papéis amontoadinhos num canto. Isso porque a minha mudança é feita assim, toda em plástico, que é mais fácil de carregar do que as famigeradas caixas de papelão. Porque parte de minha mudança (aquela que não foi na camionete do mano) é feita de pé mesmo, socada num carro de feira (que eu dei de presente de natal há uns dez anos para minha mãe, com plaquinha e tudo, donde se lê Escort)...antes de mais nada, é preciso dizer que são só uns quinze minutos de andança, não custa tanto mas enche o saco, vou te contar...

Carrinhos de feira são uma mão na roda para os que se negam a pagar os três reais da taxa de entrega nos mercados. Eu bem pensei em adquirir um novinho só para mim, mas creio que não daria certo. O apartamento fica no quarto andar de um prédio sem elevador, sou mais pagar os três reais.

Pessoas, eu não possuo quase nada, basicamente muitos livros, papéis acumulados ao longo de seis anos de faculdade, muitas roupas e uma bicicleta ergométrica. Mais algumas lembrancinhas emboloradas que eu guardo há mais de quinze anos e tenho ganas de pôr fora.

Sem esquecer do enxoval. Sim, pessoas, eu tenho um enxoval prontinho, empacotadinho me aguardando há dezoito anos. Presente de vovó quando fiz nove anos. Que coisa um tanto estranha, não? Tenho um enxoval de casamento há quase vinte anos e nem sinal do moçoilo que comigo o compartirá. Coitada, minha avó morreu sem ter tido o prazer de ver as toalhas presenteadas estendidas no meu banheiro. Hoje as peças (padronagem anos oitenta, diga-se) precisam de um bom banho para livrá-las das manchas amarelas...

Decidi não esperar o noivo para usar do enxoval, sabe-se deus quando o cara virá...e, ademais, preciso de toalhas.